quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Voltei! A minha vida nos contentores





Imagens dos nossos contentores encontradas em http://matematicadaana.blogspot.com

O Regresso da Marcolina e a sua vida num contentor

A Marcolina surge sempre em épocas de crise. É um pseudónimo? Um heterónimo? Não sei, mas sei que me divirto imenso na sua pele. A Marcolina é só mais uma personagem neste mundo das professoras solitárias no meio de multidões de alunos e de testes. A Marcolina sou eu quando quero exercitar a arte de maldizer.

Ultimamente, a pobre da Marcolina vive uma boa parte dos seus dias enfiada em contentores.

A vida num contentor…I
Quando a escola está em obras, pensamos no futuro, nas instalações que vamos ter, enfim, em qualidade, mas o presente apresenta-se triste e muito degradado. Eu sei que é uma dádiva ter emprego, eu sei que até há quem viva num contentor, mas… nunca pensei que trabalhar dentro de um fosse tão difícil.

Dei por mim a pensar nos momentos mais marcantes da vida da Marcolina enfiada nos contentores e só me dá vontade de rir. Rir até rebentar. O que é o contentor? Mais conhecido por «monobloco», ou simpaticamente por «moradia», estes espaços proliferam nas escolas em remodelação. Vêm de Espanha e sempre ouvi dizer que de lá nem bom vento, nem bom casamento. Ora, o contentor é uma sala de aula, onde cerca de trinta alminhas se acomodam em cada 90 minutos. Tem quatro janelas com grades e duas delas estão directamente viradas para o contentor mais próximo, que está mesmo ali ao alcance das suas mãozitas. Tem ar condicionado e aparentemente aspecto acolhedor, mas… como estão colocados ao lado uns dos outros e as paredes são de «metal» o som das outras aulas dadas em vários contentores propaga-se rapidamente.Deste modo, a porta não pode estar aberta e as janelas têm de estar fechadas. Com o ar condicionado ligado começam os problemas de sinusite, gargantas irritadas e secas. O ar não se renova e em cada 90 minutos temos de enfrentar cheiros pouco agradáveis e variáveis em função da população residente. Animador, hem? Mas há mais.

A vida num contentor…II
Quando chove é uma maravilha. Não falta água em nenhum contentor, pois ora chove lá dentro, ou os alunos carregam a água nos pés (previamente ensopados no pavimento molhado) e a desolação instala-se. Quando a Marcolina entra nos contentores tem de firmar muito bem os ténis (desistiu de usar botas) para não escorregar e quando tem de se deslocar ao quadro, vai rezando para ser poupada dessa humilhação, o trambolhão. Ora, como dizia, a empresa que gere o aluguer destes contentores, que são pagos com o dinheiro dos contribuintes, foi enganada. Os nossos queridos irmanos não se lembraram do pormenor da chuva (que teima em entrar e da água que os alunos carregam nos pés) e colocaram no chão lindos oleados plastificados em tons de cinza muito fashion mas nada eficazes contra a humidade e a água. No final da manhã, após uma boa chuvada, só me ocorre a analogia com os currais... e nós lá dentro a fingir que é natural correr o risco de levar um valente choque eléctrico ao ligar um interruptor molhado.

Quedas e outras histórias.

Ora uma escola em obras apresenta inúmeras armadilhas. Desde que começou o ano lectivo já assisti a algumas quedas e tombos. Há uma colega que caiu ao colocar o pé num buraco, alunos que se magoam quando, em aulas de Educação Física dadas ao ar livre e em espaços exíguos, utilizam as cercas de alumínio como barreiras para pararem as suas corridas, alunos que jogam à bola em sítios de passagem e esbarram com quem passa…lama à entrada da escola e mais tombos. Quando se transforma a biblioteca da escola em bar, também se deve pensar que o chão não foi preparado para a humidade e para um novo ritmo de quem quase corre para atender dezenas de alunos esfomeados em intervalos minúsculos e o resultado foi mais umas quedas e um pulso partido… um ombro magoado…enfim…qualquer dia sou eu. Se bem me lembro, quando andei na Faculdade de Letras, novita mas já stressada e sempre a correr,passava a vida a cair nas escadas de mármore que ligam os vários pisos e lembro-me da vergonha que sentia quando os meus tombos provocavam o riso dos que passavam.Deve ser por isso que não consigo rir quando vejo alguém cair.Mas, para manter a tradição,vinte anos depois,quando tive de me deslocar à nova biblioteca desta Faculdade, ao descer as escadas lá caí,mas, sinal dos tempos, a biblioteca estava vazia e não houve espectadores para a minha humilhação. Na escola, já adoptei a solução de usar ténis que enfrentam qualquer piso molhado, buracos e lamas traiçoeiras.Eu sei que me dão um ar desleixado e pouco atraente, mas após tantas torcidelas com sapatos altos, optei pela verdadeira «segurança no trabalho». Olé!

Voltando aos nossos queridos contentores.Em vez da cor branco sujo, poderiam apresentar umas corezitas mais atraentes e motivadoras para quem lá entra todos os dias. Ora aqui ficam umas sugestõezitas para inspirar os fabricantes «nuestros irmanos» na construção de mais uns contentorzitos para o nosso governo alugar e instalar em mais umas quantas escolas…ou se as obras não acabarem no prazo previsto (???), quem sabe para substituir os contentores actuais… que entretanto com tanta água começaram a enferrujar...






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